Lente Scleral Bastos de 19.5 mm. |
A correta
limpeza, manuseio e assepsia das lentes rígidas gás permeáveis (RGPs) é um dos
principais fatores a garantir uma maior longevidade das lentes, conforto e
segurança para o paciente. Inclui-se nesta afirmação as lentes esclerais (e
semiesclerais) modernas. As lentes RGPs são aquelas adaptadas diretamente na
córnea e ficam dentro da uma limitação de 12.5 mm. de diâmetro, tendo em média
o diâmetro de 9.0 a 11.5 mm atualmente. As lentes esclerais são rígidas mas não
apoiam-se (ou não devem se apoiar) na córnea e nem no limbo (transição) e sim
apoiarem-se suavemente na porção branca dos olhos (esclera) e tem diâmetros entre 18.0 e 23.0 mm.
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Lente RGP diâmetro 10.5 mm. |
Embora as
lentes rígidas (e esclerais) sejam menos propensas a contaminação por não
absorverem água, lágrima ou produtos de limpeza, se não forem limpas
adequadamente elas formam depósitos muco-proteícos da lágrima que aderem
lentamente e gradativamente sobre sua superfície interna e externa. Estes
depósitos acumulam-se e podem tornar a lente opaca como se estivesse suja),
prejudicando a visão e até mesmo o conforto no seu uso. É comum ver pacientes
que cuidam bem ou os que são mais relapsos no cuidado com as lentes durante as
visitas de revisão, especialmente aqueles que voltam de um ano para mais da
última visita ou mesmo da entrega das lentes. Estes depósitos inicialmente são
invisíveis mas com o tempo vão acumulando em finas camadas até que se torna
visível para o próprio paciente a olho nu ao examinar a própria lente. A partir
deste momento mesmo que o paciente passe a limpar suas lentes com maior
frequência (até mesmo por necessidade) em muitos casos pode não adiantar muito,
os depósitos depois de acumulados somente podem ser limpos no laboratório onde
produtos específicos são utilizados e pode haver necessidade de um polimento
para renovar as lentes.
Outra
questão não menos importante que a limpeza adequada é o cuidado com o manuseio
das lentes de contato. É importante compreender que as lentes rígidas são
feitas de um material sensível a riscos e especialmente a região da borda da
lente (assim como seu desenho geométrico total) é responsável em grande parte
pelo conforto ou desconforto no uso. Para abordar estas questões acima
expostas, elaborei um guia de usuário de lentes rígidas (e esclerais) de
maneira que possa servir como orientação para todos aqueles que estão
adaptados, estão em adaptação ou irão fazer adaptação de lentes de contato
rígidas gás permeáveis ou esclerais.
Guia do usuário de LC RGPs/Esclerais
Embora existam inúmeras soluções voltadas para limpeza e
assepsia de lentes de contato no mercado, são poucas as opções disponibilizadas
para estas lentes pela indústria farmacêutica que concentra seus produtos
voltados para os usuários de lentes gelatinosas e gelatinosas descartáveis. As
soluções para lentes RGPs mais
conhecidos dos usuários são o Boston Simplus (Bausch & Lomb) e Opti Free GP
(antigo Unique Ph). Este último é o mais difícil de encontrar, muitos pacientes
referem não encontrar o produto facilmente e inclusive tem que encomendar de outras
cidades em alguns casos.
O fato é que estas soluções multiuso não são muito
eficientes para limpeza se utilizadas unicamente. Na nossa experiência de cerca
de 45 anos com lentes rígidas é possível estabelecer algumas considerações em
relação a este tema muitas vezes relegado a um segundo plano ou mesmo deixado
de lado por alguns especialistas.
Como limpar suas
lentes rígidas (e esclerais)
A limpeza das lentes rígidas deve ser feita antes de inserir
as mesmas nos olhos, no entanto é de extrema importância uma limpeza mais
efetiva após o seu uso. No momento que se retira as lentes elas estão com a
superfície coberta por uma película de lágrima que também junta micropartículas presentes no ar durante o uso. Esta lágrima que fica retida na lente
se não for limpa pode ser o início de um processo de acúmulo de depósitos
muco-proteicos.
Tutorial
1. Lave bem as mãos com sabonete neutro, enxague e seque as
mãos (se possível com toalhas de papel) e com as mãos secas retire as lentes,
uma de cada vez. Procure sempre começar do mesmo lado para não misturar as
mesmas.
2. Com a palma da mão aberta posicione a lente com a porção
convexa (externa) virada para baixo de maneira que ela se acomode na sua mão.
Com o dedo indicador (ou outro) da outra mão retire o excesso de lágrima da
superfície interna da lente.
3. Utilize shampo J&J Baby Neutro (Ph Balanceado),
levemente diluído com água (ou soro fisiológico se preferir) para pingar
algumas gotas sobre a lente.
4. Com o dedo indicador ou outro menor, faça movimentos
circulares como se estivesse massageando a lente. Este movimento irá gerar uma
fricção e irá "ensaboar" a lente sobre a palma da outra mão aberta. É
a melhor maneira de garantir que a lente será limpa efetivamente, nada
substitui a fricção. Não utilize força ou pressão excessiva contra a lente pois
poderá quebrá-la ou danificá-la, faça movimentos circulares leves.
5. Após alguns segundos de fricção será necessário enxaguar
a lente para que escorra o shampo e os detritos que saíram da lente. Neste momento
você pode utilizar água corrente mas certifique-se de utilizar um ralo (ou
rede) de proteção (de preferência plástico ou borracha).
6. Após enxaguar a lente, seque novamente as mãos e aí sim
utilize a solução multiuso recomendada pelo seu oftalmologista ou aquele que
você está acostumado. Certifique-se de que a lente foi completamente coberta
pela solução e aí sim pode armazená-la no estojinho.
7. Repita a operação com a outra lente.
8. Para colocar as lentes no dia seguinte, não é necessário
refazer todos estes passos, utilize apenas a solução multiuso indicada pelo seu
médico para colocar as lentes, afinal elas foram limpas corretamente no dia
anterior, certo?
9. Pelo menos uma vez
por semana faça uma limpeza e higienização do estojinho das lentes, você pode
utilizar sabonete líquido neutro e uma escova de dentes de cerdas duras
(utilizada apenas para este fim) e limpe bem as pequenas arestas que podem
juntar sujeira com o passar do tempo.
10. Deixe o estojinho secar virando ele para baixo em cima
de uma toalha de papel limpa.
Manuseio
das Lentes Rígidas - Tutorial
O correto manuseio das lentes garante que as chances de
ocorrer um eventual dano ao desenho e/ou material das mesmas. Um dos principais
riscos de dano é quando a lente cai durante o manuseio. Frequentemente a lente
cai em algum cantinho difícil de juntar e se ela estiver com a superfície
côncava (interna) virada para baixo fica ainda mais difícil juntar.
Caso você utilize uma pia com tampo o simples ato de
arrastar a lente sobre uma superfície (no caso dela estar virada para baixo)
pode comprometer o polimento da borda e mesmo o seu desenho. É importante saber
que a borda da lente tem fundamental importância no sucesso da adaptação, no
conforto e na segurança para o paciente. No IOSB nós sempre ressaltamos para os
pacientes que utilizam as lentes Ultracone por exemplo de que não arrastem a
lente em nenhuma hipótese pois a lente Ultracone possui um dos mais avançados
desenhos de lentes especiais para o ceratocone, e seu desenho tem controle
microscópico de borda o que garante um excelente conforto e a melhor relação
lente/córnea. Se a borda for danificada ela poderá perder este desenho de borda
pois a superfície da borda terá uma interrupção no desenho o que pode
comprometer o conforto e mesmo a saúde fisiológica da adaptação. Procure inspecionar a lente antes de
recolocá-la para procurar eventuais quebraduras ou rachaduras na borda e na
lente.
Higiene
Sempre procure manusear as lentes com as mãos limpas. No dia-a-dia
utilizamos as mãos para abrir portas (maçanetas), descer escadas (corrimão),
tocar em objetos que podem estar contaminados. Evite coçar os olhos, se
necessário lave as mãos antes e faça sem utilizar força excessiva ou por muito
tempo e se isso ocorrer procure orientação com o seu oftalmologista para saber
se a coceira ocular deve-se a alergia, se decorrente de pouca lágrima nos olhos
ou se ao desenho/qualidade das suas lentes.
Ao cuidar deste aspecto da higiêne, basicamente você também
estará prevenindo-se de um eventual contágio de gripe ou do H1N1. Grande parte
da contaminação ocorre pelo contato, portanto atenção a este detalhe básico de
higiêne. Lave as mãos com a frequência necessária.
Colocar e tirar
lentes rígidas (e esclerais)
Para colocar lentes rígidas, basta orientação, treinamento e
determinação por parte do paciente, mas é importante lembrar que ninguém (ou
quase ninguém) consegue se adaptar a lentes de má qualidade e/ou mal adaptadas.
Ter determinação de colocar uma lente que apenas sente a presença dela nos
primeiros dias é uma coisa, se for a sensação de um "caco de vidro"
ou um "tijolo" nos olhos ninguém se adapta.
Tanto as lentes RGPs como as lentes esclerais precisam ser
colocadas com o paciente sem mover os olhos para os lados ou para cima/baixo.
Se o paciente olhar para o lado a lente entra errado e irá ficar
desconfortável, fora de posição (ou com bolha se for lente escleral). No caso
das lentes rígidas elas poderão deslocar-se para a esclera, mas não se
preocupe. Mas olhar para o sentido inverso ao qual ela está (se estiver debaixo
da pálpebra superior olhe para baixo e procure empurrar ela por cima da
pálpebra para baixo) e utilizar a própria pálpebra para colocá-la no lugar.
Para retirar as lentes rígidas há duas técnicas principais
que são a pressão vertical ou horizontal das pálpebras, o paciente deve ser
ensinado quanto as duas para ver qual se sente melhor. Há uma terceira
possibilidade que é a utilização do recurso da ventosa (tipo DMV Ultra). Esta
ventosa é de altíssima qualidade, bem macia para não machucar e firme o
suficiente para mal tocar na lente e ela sair, basta molhar a extremidade da
mesma. Para retirar lentes esclerais a ventosa DMV é bastante eficiente,
no entanto é importante que ela seja aplicada na porção inferior da lente,
próxima a pálpebra inferior. O paciente deve inclinar a cabeça para frente (testa
para frente, queixo para trás), abrir as pálpebras com os dedos da outra mão, olhar
para o espelho e certificar-se de que a ventosa irá tocar a parte inferior da
lente, fazendo com que ela venha para frente e para baixo delicadamente e sem
piscar (muito importante não piscar durante a retirada). Desta maneira a lente
irá sair mais facilmente, se a ventosa for aplicada no centro ela irá exercer
uma pressão negativa contra a conjuntiva que recobre a esclera e gerar um
efeito de sucção, sem sair do olho. Abaixo um víeo tutorial que mostra como inserir e retirar as lentes RGPs.
A lente caiu, e
agora?
Em primeiro lugar é importante não se mexer, procure
verificar se a lente não ficou em cima da pia, se não ficou no seu rosto ou na
roupa, olhe para o chão ao redor dos seus pés e planeje cuidadosamente um passo
para deslocar-se e saber que não irá pisar na lente por acidente.
Se a lente cair virada para baixo há duas maneiras de juntar
a mesma sem arrastá-la, a primeira é umedecer a ponta do dedo e delicadamente
tocar o centro da lente e levantar o dedo. Com alguma sorte a mesma irá vir
junto com o seu dedo. A outra maneira, mais fácil é utilizar uma ventosa especial importada (a Ultralentes dispõe estas ventosas), basta molhar a pontinha da
ventosa e tocar delicadamente a lente para ela ficar grudada, aí basta levantar
a lente.
Lembre-se de que é importante não arrastar a lente para não
arruinar o seu desenho e danificar a mesma. Caso isso ocorra a lente deverá ser
entregue ao oftalmologista para ele avaliar e eventualmente enviar ao
laboratório para polimento e recuperação (se eles fizerem este serviço).
Quebrei/Perdi a lente,
e agora?
Quem usa lentes há muitos anos sabe como é, por mais cuidado
que se tenha um dia acidentalmente pode-se perder ou quebrar a lente. Quem usa
lentes há mais tempo geralmente guarda as suas lentes anteriores (velhas). A tentação
de pegar aquela lente do olho direito ou esquerdo do par antigo é grande, mas
cuidado!!!
Uma informação importante sobre o par antigo, é preciso
saber se as lentes foram repetidas ou se foram reajustadas (curvatura
diferente). Se este par da lente perdida/quebrada foi feita devido a um
episódio de progressão do ceratocone é provável que esta lente antiga esteja
desatualizada e não seja indicada a sua reutilização sob nenhuma hipótese,
especialmente se a diferença dos parâmetros for significativa em relação as
antigas (velhas).
A reutilização de lentes antigas pode parecer tentador para
o paciente que muitas vezes pode achar desagradável ter que gastar novamente
com uma lente nova, entretanto o "barato sai caro". É possível que
lente antiga proporcione até mesmo uma visão aparentemente melhor pois ela pode
estar tocando o centro da córnea, "achatando o ceratocone ou o ápice da
córnea e isso irá gerar uma lesão central.
Uma lente que provoca toque central fatidicamente irá
provocar um atrito mecânico com o epitélio corneano, pode levar alguns dias ou
mesmo semanas mas irá criar uma microlesão e as vezes o paciente somente começa
a sentir quando há o rompimento do epitélio corneano que é a primeira camada da
córnea. Se a segunda camada, chamada membrana de Bowman for rompida há dor e a
erosão de córnea pode levar a uma úlcera de córnea. Se esta lesão persistir e o
paciente não for corretamente orientado e medicado poderá criar com o tempo uma
cicatriz ou nébula (leucoma) que não regride. Esta opacidade muitas vezes fica
muito próxima ao eixo visual e pode atrapalhar a acuidade visual fazendo com
que haja uma pequena perda da melhor acuidade. Suspenda o uso da lente e vá
imediatamente ao seu oftalmologista se tiver dor ou olho vermelho.
A instrução correta é não reutilizar lentes antigas se elas
forem substituídas devido a um episódio de progressão e os parâmetros trocados.
Se tiver que utilizar faça somente em caráter emergencial e o menor tempo
possível. Assim que possível telefone para o seu oftalmologista e veja a
possibilidade de encomendar uma lente nova, através do seu prontuário ele
poderá saber se ele pode pedir a lente de substituição ou se está na hora de
fazer uma revisão.
No caso da lente antiga ser semelhante a "nova"
quebrada/perdida lembre-se de que as lentes foram trocadas por algum motivo,
provavelmente por estarem já velhas, riscadas ou com depósitos muco-proteicos.
Não demore para repor sua lente quebrada ou perdida.
Revisões: A
importância do seu oftalmologista
As visitas de retorno ou de revisões periódicas são
fundamentais para assegurar que seus olhos estão saudáveis e que as lentes
estão em bom estado e corretamente ajustadas para os seus olhos. O
oftalmologista treinado para adaptação de lentes rígidas (RGPs) tem condições
de avaliar os seus olhos e assegurar que as lentes estejam corretamente
ajustadas, se ele observar algum detalhe importante confie nele. As vezes o
paciente não tem queixa, não tem sintoma mas a lente pode estar causando alguma
microlesão no epitélio e se não for observado isso em tempo depois pode criar
uma situação pior, fazendo com que o paciente tenha que interromper o uso das
lentes.
No IOSB temos uma casuística de pacientes de ceratocone
realmente grande, é comum pacientes mesmo antigos, do tempo do meu pai, usarem
suas lentes por 2, 3, 4 e até mais anos consecutivamente e retornarem apenas
quando as lentes realmente ficam velhas. Temos até um recorde interno, os três
líderes do ranking utilizaram as mesmas lentes por 8, 10 e 12 anos, acredite se
quiser. No entanto essa é a exceção e não deve ser absolutamente levado em
consideração.
O ideal é que o paciente faça uma revisão anual ou na pior
das hipóteses há cada 18 meses se estiver tudo absolutamente bem, sem olho
vermelho, sem desconforto e a lente se comportando corretamente nos olhos. A vida moderna hoje é muito corrida, tudo é
mais rápido e com maior intensidade, caso você não tenha ido revisar suas lentes
nos últimos dois a três anos talvez seja a hora de ir, não deixe para depois.
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Imagem tomográfica Pentacam |
Uma dica importante para exames de Topografias/Tomografias
de Controle ou revisão de adaptação é suspender o uso das lentes por três dias
antes do exame ou consulta. Se você tem que fazer lentes novas e faz tempo que
não visita o seu oftalmologista faça isso. O motivo é que a córnea geralmente
modifica-se de acordo com a lente que está sendo utilizada, mesmo que estiver
bem adaptada/ajustada. Para uma avaliação precisa e correta o ideal é que o
paciente fique sem as lentes (três dias se forem rígidas e 7 dias se forem
gelatinosas) por este período, desta maneira tanto exames como topografia ou
tomografia de segmento anterior e reavaliação de adaptação de lentes será mais
preciso. Uma topografia feita com o uso prévio de lentes (tirar a lente apenas
antes do exame) irá apresentar um padrão diferente do que se ficar sem utilizar
a lente (rígida) por três ou mais dias.
Um detalhe importante: Esse prazo de três dias as vezes pode
ser pouco. Em alguns casos de primeira consulta no IOSB alguns pacientes que
foram adaptados em outro local vem com lesões ou marcas das lentes nos olhos,
em alguns casos chega a ficar a marca da lente no olho como se o paciente
estivesse com ela ainda, mesmo sem estar. Em casos como este as vezes poderá
ser necessário suspender o uso das lentes rígidas por mais tempo, entre 5 e 7
dias.
Outras
questões relacionadas
Eu uso lente
gelatinosas, e agora?
Não se aplica a este tutorial no entanto a recomendação é
seguir criteriosamente as orientações dadas pelo seu oftalmologista e fazer o
acompanhamento com a regularidade de uma vez ao ano ao menos.
Eu uso piggyback, e
agora?
O sistema piggyback consiste em utilizar uma lente
gelatinosa por baixo e a rígida por cima, existem duas situações que podem
levar a este tipo de adaptação:
a) Dificuldade em posicionar ou centralizar a lente rígida
na adaptação do ceratocone.
b) Intolerância a lentes rígidas*
* Obs. Em Dezembro de 2012, durante o primeiro Curso
Avançado Saul Bastos de LC Especiais tive a oportunidade de debater sobre este
tema com alguns amigos oftalmologistas e palestrantes. No IOSB, que adapta
lentes especiais para o ceratocone há mais de 40 anos e com mais de 20 mil
pacientes adaptados neste tempo, nunca fizemos piggyback. Embora eu compreenda
que os motivos de alguns especialistas lançarem mão desta técnica e terem
"sucesso" nós não gostamos da mesma. No entanto cabe mencionar que é
uma técnica válida e utilizada mundialmente.
Em nossa experiência, todos os pacientes que vem ao IOSB e
usavam o sistema piggyback chegaram um dia a intolerância absoluta do sistema.
Trocaram a lente gelatinosa, trocaram os produtos, nada mais funciona. Com
algumas horas de uso, olhos vermelhos, ardência, sensação de queimação, etc e
tem que retirar/suspender as lentes. Meu pai e eu costumávamos chamar esta
técnica de "time bomb", uma alusão a uma bomba relógio a qual
desconhece-se quando irá detonar mas está programada para em algum momento disparar.
O que fazemos?
Avaliação criteriosa do caso, readaptação com lentes rígidas
(ou esclerais), orientação e controle. Muitos destes casos requer a utilização
de lentes superpersonalizadas para atingir uma adaptação aceitável onde o
conforto, a melhor acuidade visual possível e a preservação da saúde fisiológica
da córnea possa ser mantida. Devido a casos de maior complexidade que tivemos
que desenvolver as variações da lente Ultracone (UC) chamadas UC PCR, UC
Nipple, UC Extreme e mais recentemente a Scleral Bastos UC. Hoje estas lentes
estão disponíveis para o oftalmologista credenciado na Ultralentes, aos poucos
eles vão complementando as suas lentes de teste com estas séries, no entanto
cerca de 90% dos casos podem ser solucionados com a lente Ultracone original.
Mas eu uso piggyback sem problemas, e agora?
A recomendação é a mesma de sempre, quanto a questão da
higiene e da absoluta necessidade de se fazer uma completa assepsia e limpeza
nas lentes (nos dois pares) principalmente nas gelatinosas que são extremamente
susceptíveis de contaminação. A utilização de dois pares de lentes e de dois sistemas de
limpeza tornam a adaptação demasiadamente onerosa para o paciente, além de mais
tempo para manutenção e limpeza.
A utilização de lubrificantes em forma de lágrimas
artificiais prescrito pelo oftalmologista pode ajudar a tornar o tempo de uso
maior e de maior longevidade, no entanto é preciso estar alerta ao uso
indiscriminado destes lubrificantes oculares devido a ação dos conservantes que
possuem uma certa toxicidade. Com o uso crônico os olhos podem reagir a esta
toxicidade e gerar um efeito contrário ao desejado. Felizmente hoje existem
colírios lubrificantes sem conservantes que podem ser mais seguros neste
sentido.
Lubrificantes -
Lágrimas Artificiais
É importante que o oftalmologista tenha experiência para
avaliar se os sintomas eventualmente percebidos pelo paciente como sensação de
olhos secos deve-se realmente a uma carência de lágrimas ou se o desenho da
lente rígida não está permitindo uma adequada troca lacrimal. A lente ideal é aquela
que apresenta o melhor padrão (de fluoresceína), melhor centralização e
mobilidade ideais sem que o paciente sinta a lente.
Em caso de suspeita de síndrome de olho seco
(seja qualitativa ou quantitativa) utilizar os testes apropriados como T-BUT, Teste
de Schirmer 5 min c/ anestésico (protocolo do Wills Eye Hospital) e Lisamina
Verde para avaliar e orientar o paciente. Em alguns casos é importante a
investigação levando-se em conta idade, suspeita de doença reumática (encaminhar
para o reumatologista) se suspeitar de Síndrome de Sjrögen ou Stevens Johnson.
O uso de lubrificantes em forma de lágrima artificiais é
comum em alguns pacientes usuários de lentes RGPs, seja com ceratocone ou não.
No entanto o uso crônico deve ser evitado, se a lente incomodar ao ponto de ter
que utilizar o colírio mais de 4 a 6 vezes ao dia é importante reavaliar a
adaptação com o oftalmologista. Alguns lubrificantes tem uma maior viscosidade
e demoram mais para evaporar ou serem drenados, o oftalmologista poderá se
necessário lançar mão deste recurso.
Colírios
anti-alérgicos
Temos visto muitos casos de pacientes que vem ao IOSB
utilizando anti-alérgico ocular, em muitos casos estes pacientes tinha coceira
causada pelo uso das lentes que ele foram previamente adaptados. Com a
readaptação não houve necessidade de permanecer com a medicação, em alguns
casos os lubrificantes agem de maneira mais eficaz pois a sensação de coceira
devia-se a problema lacrimal e não alérgico, embora esteja registrada na
literatura médica oftalmológica a correlação entre o ceratocone e a rinite
alérgica especialmente, mas não é uma regra absoluta.
Espero ter contribuido com maiores informações sobre o cuidado com as lentes de contato rígidas para aqueles que necessitam deste recurso para a sua reabilitação visual.
Luciano
Bastos
Diretor
& Instrutor Clínico de LC Especiais - www.iosb.com.br
Diretor
& Consultor em LC Especiais - www.ultralentes.com.br