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domingo, 24 de março de 2013

Cuidados com as Lentes de Contato Rígidas


Lente Scleral Bastos de 19.5 mm.

A correta limpeza, manuseio e assepsia das lentes rígidas gás permeáveis (RGPs) é um dos principais fatores a garantir uma maior longevidade das lentes, conforto e segurança para o paciente. Inclui-se nesta afirmação as lentes esclerais (e semiesclerais) modernas. As lentes RGPs são aquelas adaptadas diretamente na córnea e ficam dentro da uma limitação de 12.5 mm. de diâmetro, tendo em média o diâmetro de 9.0 a 11.5 mm atualmente. As lentes esclerais são rígidas mas não apoiam-se (ou não devem se apoiar) na córnea e nem no limbo (transição) e sim apoiarem-se suavemente na porção branca dos olhos (esclera) e tem diâmetros entre 18.0 e 23.0 mm.

Lente RGP diâmetro 10.5 mm.

Embora as lentes rígidas (e esclerais) sejam menos propensas a contaminação por não absorverem água, lágrima ou produtos de limpeza, se não forem limpas adequadamente elas formam depósitos muco-proteícos da lágrima que aderem lentamente e gradativamente sobre sua superfície interna e externa. Estes depósitos acumulam-se e podem tornar a lente opaca como se estivesse suja), prejudicando a visão e até mesmo o conforto no seu uso. É comum ver pacientes que cuidam bem ou os que são mais relapsos no cuidado com as lentes durante as visitas de revisão, especialmente aqueles que voltam de um ano para mais da última visita ou mesmo da entrega das lentes. Estes depósitos inicialmente são invisíveis mas com o tempo vão acumulando em finas camadas até que se torna visível para o próprio paciente a olho nu ao examinar a própria lente. A partir deste momento mesmo que o paciente passe a limpar suas lentes com maior frequência (até mesmo por necessidade) em muitos casos pode não adiantar muito, os depósitos depois de acumulados somente podem ser limpos no laboratório onde produtos específicos são utilizados e pode haver necessidade de um polimento para renovar as lentes.

Outra questão não menos importante que a limpeza adequada é o cuidado com o manuseio das lentes de contato. É importante compreender que as lentes rígidas são feitas de um material sensível a riscos e especialmente a região da borda da lente (assim como seu desenho geométrico total) é responsável em grande parte pelo conforto ou desconforto no uso. Para abordar estas questões acima expostas, elaborei um guia de usuário de lentes rígidas (e esclerais) de maneira que possa servir como orientação para todos aqueles que estão adaptados, estão em adaptação ou irão fazer adaptação de lentes de contato rígidas gás permeáveis ou esclerais.

Guia do usuário de LC RGPs/Esclerais

Embora existam inúmeras soluções voltadas para limpeza e assepsia de lentes de contato no mercado, são poucas as opções disponibilizadas para estas lentes pela indústria farmacêutica que concentra seus produtos voltados para os usuários de lentes gelatinosas e gelatinosas descartáveis. As soluções para lentes RGPs  mais conhecidos dos usuários são o Boston Simplus (Bausch & Lomb) e Opti Free GP (antigo Unique Ph). Este último é o mais difícil de encontrar, muitos pacientes referem não encontrar o produto facilmente e inclusive tem que encomendar de outras cidades em alguns casos.
O fato é que estas soluções multiuso não são muito eficientes para limpeza se utilizadas unicamente. Na nossa experiência de cerca de 45 anos com lentes rígidas é possível estabelecer algumas considerações em relação a este tema muitas vezes relegado a um segundo plano ou mesmo deixado de lado por alguns especialistas.

Como limpar suas lentes rígidas (e esclerais)

A limpeza das lentes rígidas deve ser feita antes de inserir as mesmas nos olhos, no entanto é de extrema importância uma limpeza mais efetiva após o seu uso. No momento que se retira as lentes elas estão com a superfície coberta por uma película de lágrima que também junta micropartículas presentes no ar durante o uso. Esta lágrima que fica retida na lente se não for limpa pode ser o início de um processo de acúmulo de depósitos muco-proteicos. 

Tutorial

1. Lave bem as mãos com sabonete neutro, enxague e seque as mãos (se possível com toalhas de papel) e com as mãos secas retire as lentes, uma de cada vez. Procure sempre começar do mesmo lado para não misturar as mesmas.

2. Com a palma da mão aberta posicione a lente com a porção convexa (externa) virada para baixo de maneira que ela se acomode na sua mão. Com o dedo indicador (ou outro) da outra mão retire o excesso de lágrima da superfície interna da lente.

3. Utilize shampo J&J Baby Neutro (Ph Balanceado), levemente diluído com água (ou soro fisiológico se preferir) para pingar algumas gotas sobre a lente.

4. Com o dedo indicador ou outro menor, faça movimentos circulares como se estivesse massageando a lente. Este movimento irá gerar uma fricção e irá "ensaboar" a lente sobre a palma da outra mão aberta. É a melhor maneira de garantir que a lente será limpa efetivamente, nada substitui a fricção. Não utilize força ou pressão excessiva contra a lente pois poderá quebrá-la ou danificá-la, faça movimentos circulares leves.

5. Após alguns segundos de fricção será necessário enxaguar a lente para que escorra o shampo e os detritos que saíram da lente. Neste momento você pode utilizar água corrente mas certifique-se de utilizar um ralo (ou rede) de proteção (de preferência plástico ou borracha).

6. Após enxaguar a lente, seque novamente as mãos e aí sim utilize a solução multiuso recomendada pelo seu oftalmologista ou aquele que você está acostumado. Certifique-se de que a lente foi completamente coberta pela solução e aí sim pode armazená-la no estojinho.

7. Repita a operação com a outra lente.

8. Para colocar as lentes no dia seguinte, não é necessário refazer todos estes passos, utilize apenas a solução multiuso indicada pelo seu médico para colocar as lentes, afinal elas foram limpas corretamente no dia anterior, certo?

9.  Pelo menos uma vez por semana faça uma limpeza e higienização do estojinho das lentes, você pode utilizar sabonete líquido neutro e uma escova de dentes de cerdas duras (utilizada apenas para este fim) e limpe bem as pequenas arestas que podem juntar sujeira com o passar do tempo.

10. Deixe o estojinho secar virando ele para baixo em cima de uma toalha de papel limpa.    


Manuseio das Lentes Rígidas - Tutorial

O correto manuseio das lentes garante que as chances de ocorrer um eventual dano ao desenho e/ou material das mesmas. Um dos principais riscos de dano é quando a lente cai durante o manuseio. Frequentemente a lente cai em algum cantinho difícil de juntar e se ela estiver com a superfície côncava (interna) virada para baixo fica ainda mais difícil juntar.

Caso você utilize uma pia com tampo o simples ato de arrastar a lente sobre uma superfície (no caso dela estar virada para baixo) pode comprometer o polimento da borda e mesmo o seu desenho. É importante saber que a borda da lente tem fundamental importância no sucesso da adaptação, no conforto e na segurança para o paciente. No IOSB nós sempre ressaltamos para os pacientes que utilizam as lentes Ultracone por exemplo de que não arrastem a lente em nenhuma hipótese pois a lente Ultracone possui um dos mais avançados desenhos de lentes especiais para o ceratocone, e seu desenho tem controle microscópico de borda o que garante um excelente conforto e a melhor relação lente/córnea. Se a borda for danificada ela poderá perder este desenho de borda pois a superfície da borda terá uma interrupção no desenho o que pode comprometer o conforto e mesmo a saúde fisiológica da adaptação.  Procure inspecionar a lente antes de recolocá-la para procurar eventuais quebraduras ou rachaduras na borda e na lente.    

Higiene

Sempre procure manusear as lentes com as mãos limpas. No dia-a-dia utilizamos as mãos para abrir portas (maçanetas), descer escadas (corrimão), tocar em objetos que podem estar contaminados. Evite coçar os olhos, se necessário lave as mãos antes e faça sem utilizar força excessiva ou por muito tempo e se isso ocorrer procure orientação com o seu oftalmologista para saber se a coceira ocular deve-se a alergia, se decorrente de pouca lágrima nos olhos ou se ao desenho/qualidade das suas lentes.

Ao cuidar deste aspecto da higiêne, basicamente você também estará prevenindo-se de um eventual contágio de gripe ou do H1N1. Grande parte da contaminação ocorre pelo contato, portanto atenção a este detalhe básico de higiêne. Lave as mãos com a frequência necessária.

Colocar e tirar lentes rígidas (e esclerais)

Para colocar lentes rígidas, basta orientação, treinamento e determinação por parte do paciente, mas é importante lembrar que ninguém (ou quase ninguém) consegue se adaptar a lentes de má qualidade e/ou mal adaptadas. Ter determinação de colocar uma lente que apenas sente a presença dela nos primeiros dias é uma coisa, se for a sensação de um "caco de vidro" ou um "tijolo" nos olhos ninguém se adapta.

Tanto as lentes RGPs como as lentes esclerais precisam ser colocadas com o paciente sem mover os olhos para os lados ou para cima/baixo. Se o paciente olhar para o lado a lente entra errado e irá ficar desconfortável, fora de posição (ou com bolha se for lente escleral). No caso das lentes rígidas elas poderão deslocar-se para a esclera, mas não se preocupe. Mas olhar para o sentido inverso ao qual ela está (se estiver debaixo da pálpebra superior olhe para baixo e procure empurrar ela por cima da pálpebra para baixo) e utilizar a própria pálpebra para colocá-la no lugar.

Para retirar as lentes rígidas há duas técnicas principais que são a pressão vertical ou horizontal das pálpebras, o paciente deve ser ensinado quanto as duas para ver qual se sente melhor. Há uma terceira possibilidade que é a utilização do recurso da ventosa (tipo DMV Ultra). Esta ventosa é de altíssima qualidade, bem macia para não machucar e firme o suficiente para mal tocar na lente e ela sair, basta molhar a extremidade da mesma. Para retirar lentes esclerais a ventosa DMV é bastante eficiente, no entanto é importante que ela seja aplicada na porção inferior da lente, próxima a pálpebra inferior. O paciente deve inclinar a cabeça para frente (testa para frente, queixo para trás), abrir as pálpebras com os dedos da outra mão, olhar para o espelho e certificar-se de que a ventosa irá tocar a parte inferior da lente, fazendo com que ela venha para frente e para baixo delicadamente e sem piscar (muito importante não piscar durante a retirada). Desta maneira a lente irá sair mais facilmente, se a ventosa for aplicada no centro ela irá exercer uma pressão negativa contra a conjuntiva que recobre a esclera e gerar um efeito de sucção, sem sair do olho.  Abaixo um víeo tutorial que mostra como inserir e retirar as lentes RGPs. 




 A lente caiu, e agora?

Em primeiro lugar é importante não se mexer, procure verificar se a lente não ficou em cima da pia, se não ficou no seu rosto ou na roupa, olhe para o chão ao redor dos seus pés e planeje cuidadosamente um passo para deslocar-se e saber que não irá pisar na lente por acidente.

 
Se a lente cair virada para baixo há duas maneiras de juntar a mesma sem arrastá-la, a primeira é umedecer a ponta do dedo e delicadamente tocar o centro da lente e levantar o dedo. Com alguma sorte a mesma irá vir junto com o seu dedo. A outra maneira, mais fácil é utilizar uma ventosa especial importada (a Ultralentes dispõe estas ventosas), basta molhar a pontinha da ventosa e tocar delicadamente a lente para ela ficar grudada, aí basta levantar a lente.

 Lembre-se de que é importante não arrastar a lente para não arruinar o seu desenho e danificar a mesma. Caso isso ocorra a lente deverá ser entregue ao oftalmologista para ele avaliar e eventualmente enviar ao laboratório para polimento e recuperação (se eles fizerem este serviço).

Quebrei/Perdi a lente, e agora?

Quem usa lentes há muitos anos sabe como é, por mais cuidado que se tenha um dia acidentalmente pode-se perder ou quebrar a lente. Quem usa lentes há mais tempo geralmente guarda as suas lentes anteriores (velhas). A tentação de pegar aquela lente do olho direito ou esquerdo do par antigo é grande, mas cuidado!!!

Uma informação importante sobre o par antigo, é preciso saber se as lentes foram repetidas ou se foram reajustadas (curvatura diferente). Se este par da lente perdida/quebrada foi feita devido a um episódio de progressão do ceratocone é provável que esta lente antiga esteja desatualizada e não seja indicada a sua reutilização sob nenhuma hipótese, especialmente se a diferença dos parâmetros for significativa em relação as antigas (velhas).

A reutilização de lentes antigas pode parecer tentador para o paciente que muitas vezes pode achar desagradável ter que gastar novamente com uma lente nova, entretanto o "barato sai caro". É possível que lente antiga proporcione até mesmo uma visão aparentemente melhor pois ela pode estar tocando o centro da córnea, "achatando o ceratocone ou o ápice da córnea e isso irá gerar uma lesão central.

Uma lente que provoca toque central fatidicamente irá provocar um atrito mecânico com o epitélio corneano, pode levar alguns dias ou mesmo semanas mas irá criar uma microlesão e as vezes o paciente somente começa a sentir quando há o rompimento do epitélio corneano que é a primeira camada da córnea. Se a segunda camada, chamada membrana de Bowman for rompida há dor e a erosão de córnea pode levar a uma úlcera de córnea. Se esta lesão persistir e o paciente não for corretamente orientado e medicado poderá criar com o tempo uma cicatriz ou nébula (leucoma) que não regride. Esta opacidade muitas vezes fica muito próxima ao eixo visual e pode atrapalhar a acuidade visual fazendo com que haja uma pequena perda da melhor acuidade. Suspenda o uso da lente e vá imediatamente ao seu oftalmologista se tiver dor ou olho vermelho.

A instrução correta é não reutilizar lentes antigas se elas forem substituídas devido a um episódio de progressão e os parâmetros trocados. Se tiver que utilizar faça somente em caráter emergencial e o menor tempo possível. Assim que possível telefone para o seu oftalmologista e veja a possibilidade de encomendar uma lente nova, através do seu prontuário ele poderá saber se ele pode pedir a lente de substituição ou se está na hora de fazer uma revisão.

No caso da lente antiga ser semelhante a "nova" quebrada/perdida lembre-se de que as lentes foram trocadas por algum motivo, provavelmente por estarem já velhas, riscadas ou com depósitos muco-proteicos. Não demore para repor sua lente quebrada ou perdida.

Revisões: A importância do seu oftalmologista

As visitas de retorno ou de revisões periódicas são fundamentais para assegurar que seus olhos estão saudáveis e que as lentes estão em bom estado e corretamente ajustadas para os seus olhos. O oftalmologista treinado para adaptação de lentes rígidas (RGPs) tem condições de avaliar os seus olhos e assegurar que as lentes estejam corretamente ajustadas, se ele observar algum detalhe importante confie nele. As vezes o paciente não tem queixa, não tem sintoma mas a lente pode estar causando alguma microlesão no epitélio e se não for observado isso em tempo depois pode criar uma situação pior, fazendo com que o paciente tenha que interromper o uso das lentes.

No IOSB temos uma casuística de pacientes de ceratocone realmente grande, é comum pacientes mesmo antigos, do tempo do meu pai, usarem suas lentes por 2, 3, 4 e até mais anos consecutivamente e retornarem apenas quando as lentes realmente ficam velhas. Temos até um recorde interno, os três líderes do ranking utilizaram as mesmas lentes por 8, 10 e 12 anos, acredite se quiser. No entanto essa é a exceção e não deve ser absolutamente levado em consideração.

O ideal é que o paciente faça uma revisão anual ou na pior das hipóteses há cada 18 meses se estiver tudo absolutamente bem, sem olho vermelho, sem desconforto e a lente se comportando corretamente nos olhos. A vida moderna hoje é muito corrida, tudo é mais rápido e com maior intensidade, caso você não tenha ido revisar suas lentes nos últimos dois a três anos talvez seja a hora de ir, não deixe para depois.

Imagem tomográfica Pentacam
Uma dica importante para exames de Topografias/Tomografias de Controle ou revisão de adaptação é suspender o uso das lentes por três dias antes do exame ou consulta. Se você tem que fazer lentes novas e faz tempo que não visita o seu oftalmologista faça isso. O motivo é que a córnea geralmente modifica-se de acordo com a lente que está sendo utilizada, mesmo que estiver bem adaptada/ajustada. Para uma avaliação precisa e correta o ideal é que o paciente fique sem as lentes (três dias se forem rígidas e 7 dias se forem gelatinosas) por este período, desta maneira tanto exames como topografia ou tomografia de segmento anterior e reavaliação de adaptação de lentes será mais preciso. Uma topografia feita com o uso prévio de lentes (tirar a lente apenas antes do exame) irá apresentar um padrão diferente do que se ficar sem utilizar a lente (rígida) por três ou mais dias.

Um detalhe importante: Esse prazo de três dias as vezes pode ser pouco. Em alguns casos de primeira consulta no IOSB alguns pacientes que foram adaptados em outro local vem com lesões ou marcas das lentes nos olhos, em alguns casos chega a ficar a marca da lente no olho como se o paciente estivesse com ela ainda, mesmo sem estar. Em casos como este as vezes poderá ser necessário suspender o uso das lentes rígidas por mais tempo, entre 5 e 7 dias.

Outras questões relacionadas

Eu uso lente gelatinosas, e agora?
Não se aplica a este tutorial no entanto a recomendação é seguir criteriosamente as orientações dadas pelo seu oftalmologista e fazer o acompanhamento com a regularidade de uma vez ao ano ao menos.

Eu uso piggyback, e agora?

O sistema piggyback consiste em utilizar uma lente gelatinosa por baixo e a rígida por cima, existem duas situações que podem levar a este tipo de adaptação:

a) Dificuldade em posicionar ou centralizar a lente rígida na adaptação do ceratocone.
b) Intolerância a lentes rígidas*

* Obs. Em Dezembro de 2012, durante o primeiro Curso Avançado Saul Bastos de LC Especiais tive a oportunidade de debater sobre este tema com alguns amigos oftalmologistas e palestrantes. No IOSB, que adapta lentes especiais para o ceratocone há mais de 40 anos e com mais de 20 mil pacientes adaptados neste tempo, nunca fizemos piggyback. Embora eu compreenda que os motivos de alguns especialistas lançarem mão desta técnica e terem "sucesso" nós não gostamos da mesma. No entanto cabe mencionar que é uma técnica válida e utilizada mundialmente.

Em nossa experiência, todos os pacientes que vem ao IOSB e usavam o sistema piggyback chegaram um dia a intolerância absoluta do sistema. Trocaram a lente gelatinosa, trocaram os produtos, nada mais funciona. Com algumas horas de uso, olhos vermelhos, ardência, sensação de queimação, etc e tem que retirar/suspender as lentes. Meu pai e eu costumávamos chamar esta técnica de "time bomb", uma alusão a uma bomba relógio a qual desconhece-se quando irá detonar mas está programada para em algum momento disparar.

O que fazemos? 

Avaliação criteriosa do caso, readaptação com lentes rígidas (ou esclerais), orientação e controle. Muitos destes casos requer a utilização de lentes superpersonalizadas para atingir uma adaptação aceitável onde o conforto, a melhor acuidade visual possível e a preservação da saúde fisiológica da córnea possa ser mantida. Devido a casos de maior complexidade que tivemos que desenvolver as variações da lente Ultracone (UC) chamadas UC PCR, UC Nipple, UC Extreme e mais recentemente a Scleral Bastos UC. Hoje estas lentes estão disponíveis para o oftalmologista credenciado na Ultralentes, aos poucos eles vão complementando as suas lentes de teste com estas séries, no entanto cerca de 90% dos casos podem ser solucionados com a lente Ultracone original.

Mas eu uso piggyback sem problemas, e agora?

A recomendação é a mesma de sempre, quanto a questão da higiene e da absoluta necessidade de se fazer uma completa assepsia e limpeza nas lentes (nos dois pares) principalmente nas gelatinosas que são extremamente susceptíveis de contaminação. A utilização de dois pares de lentes e de dois sistemas de limpeza tornam a adaptação demasiadamente onerosa para o paciente, além de mais tempo para manutenção e limpeza.

A utilização de lubrificantes em forma de lágrimas artificiais prescrito pelo oftalmologista pode ajudar a tornar o tempo de uso maior e de maior longevidade, no entanto é preciso estar alerta ao uso indiscriminado destes lubrificantes oculares devido a ação dos conservantes que possuem uma certa toxicidade. Com o uso crônico os olhos podem reagir a esta toxicidade e gerar um efeito contrário ao desejado. Felizmente hoje existem colírios lubrificantes sem conservantes que podem ser mais seguros neste sentido.

Lubrificantes - Lágrimas Artificiais

É importante que o oftalmologista tenha experiência para avaliar se os sintomas eventualmente percebidos pelo paciente como sensação de olhos secos deve-se realmente a uma carência de lágrimas ou se o desenho da lente rígida não está permitindo uma adequada troca lacrimal. A lente ideal é aquela que apresenta o melhor padrão (de fluoresceína), melhor centralização e mobilidade ideais sem que o paciente sinta a lente. 

Em caso de suspeita de síndrome de olho seco (seja qualitativa ou quantitativa) utilizar os testes apropriados como T-BUT, Teste de Schirmer 5 min c/ anestésico (protocolo do Wills Eye Hospital) e Lisamina Verde para avaliar e orientar o paciente. Em alguns casos é importante a investigação levando-se em conta idade, suspeita de doença reumática (encaminhar para o reumatologista) se suspeitar de Síndrome de Sjrögen ou Stevens Johnson.

O uso de lubrificantes em forma de lágrima artificiais é comum em alguns pacientes usuários de lentes RGPs, seja com ceratocone ou não. No entanto o uso crônico deve ser evitado, se a lente incomodar ao ponto de ter que utilizar o colírio mais de 4 a 6 vezes ao dia é importante reavaliar a adaptação com o oftalmologista. Alguns lubrificantes tem uma maior viscosidade e demoram mais para evaporar ou serem drenados, o oftalmologista poderá se necessário lançar mão deste recurso.

Colírios anti-alérgicos

Temos visto muitos casos de pacientes que vem ao IOSB utilizando anti-alérgico ocular, em muitos casos estes pacientes tinha coceira causada pelo uso das lentes que ele foram previamente adaptados. Com a readaptação não houve necessidade de permanecer com a medicação, em alguns casos os lubrificantes agem de maneira mais eficaz pois a sensação de coceira devia-se a problema lacrimal e não alérgico, embora esteja registrada na literatura médica oftalmológica a correlação entre o ceratocone e a rinite alérgica especialmente, mas não é uma regra absoluta.

Espero ter contribuido com maiores informações sobre o cuidado com as lentes de contato rígidas para aqueles que necessitam deste recurso para a sua reabilitação visual.

Luciano Bastos
Diretor & Instrutor Clínico de LC Especiais - www.iosb.com.br
Diretor & Consultor em LC Especiais - www.ultralentes.com.br