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terça-feira, 1 de maio de 2012

Lesões Recorrentes por lentes de contato no ceratocone

Um dos motivos que me leva a escrever este artigo é o fato de que recebemos mensalmente no IOSB diversos novos pacientes com ceratocone que nos procuram para receber ajuda. Estes pacientes, além de Porto Alegre, vem de outras cidades do interior e de outros estados a procura de uma solução para o seu caso.

A dificuldade mais comum é não conseguirem se adaptar as lentes de contato rígidas. Embora ao entrar em contato com o IOSB estes pacientes sejam orientados a ficar por pelo menos 48/72 hs sem usar lentes rígidas e de 7 dias se forem lentes gelatinosas muitas vezes eles vem usando suas lentes ou não as retiram com a antecipação recomendada. Isso é necessário para que a córnea esteja relaxada e sem alterações topográficas induzidas pela lente de contato do paciente. Quando o paciente não consegue usar por não se adaptar é bem mais fácil, os testes podem ser realizados e em 99,5% dos casos uma adaptação personalizada da lente Ultracone (seja o modelo original, PCR, SSB ou Ultracone SB Escleral) resolve o problema e o paciente tem uma excelente adaptação.

Quando o paciente não retira as lentes é comum que a córnea esteja com a topografia alterada pela lente e as vezes existam lesões que impeçam os testes em um primeiro momento. É compreensível que muitos não suspendam o uso de suas lentes antes do exame por sentirem-se incapazes mesmo de deslocarem-se ou de realizar suas tarefas de rotina e especialmente profissionais sem as suas lentes. Frequentemente vemos pequenas lesões do epitélio corneano e as vezes erosões mais sérias e úlcera de córnea. Quando há lesões sérias o paciente incialmente tem que ser tratado antes para que possa ser realizado um teste confiável e seguro.

É de grande importância que algumas questões sejam esclarecidas e desmistificadas, tais como:
  • Olho vermelho usando lentes é sinal de a lente não está boa ou não está bem adaptada;
  • Lacrimejamento excessivo é sinal de lente de má qualidade ou com defeito;
  • Nenhum paciente consegue se adaptar com uma lente que provoca dor, isso não é normal;
  • Apresentar episódios de ceratites (lesões epiteliais) freqüentes não é normal;
  • Lentes que ficam "presas" nos olhos e não se mexem não estão bem adaptadas;
  • Lentes que se deslocam com muita facilidade ou caem não estão bem adaptadas.

Filme Lacrimal

Uma observação clínica que muitas vezes é relevada por especialistas é a observação e análise da estabilidade lacrimal do paciente. Pacientes com oho seco, seja evaporativo ou não, tem grande dificluldade em adaptação de lentes especialmente se a qualidade das lentes for muito boa. Para o sucesso na adaptação de pacientes com perfil lacrimal mais baixo é de fundamental importância que uma lente que permita o livre trânsito da lágrima seja adaptada e de forma que a lente não produza um atrito mecânico no ápice do certocone, especialmente se próximo do eixo visual.  


Ceratite causada por LC RGP de diâmetro pequeno com toque apical,  lesão 
no ápice. Observa-se também a marca deixada pela lente na córnea.




Quando o paciente apresenta ceratites freqüentes, é tratado e depois instruído a usar a mesma lente as chances de haver uma recorrência da ceratite são grandes. Alguns pacientes são assimtomáticos e podem não perceber isso, portanto as visitas de rotina e a adaptação de lentes que não toquem a córnea é muito importante. Estes pacientes que machucam a córnea, tratam com gel específico, voltam  a usar a mesma lente, fazm nova lesão e seguem nessa tendência poderão desenvolver cicatrizes permenantes que irão por conseqüência o comprometimento da melhor acuidade visual, perdendo as vezes uma ou mais linhas de visão (Tabela de Snellen).


Quando ocorre este tipo de situação o paciente muitas vezes acaba deixando o profissional e procurando ajuda com outros especialistas, as vezes ele percorre muitos especialistas e em alguns casos a solução parece não existir. É comum os pacientes que chegam nestas condições no IOSB terem uma certa reserva, de fazer mais uma tentativa mas sem "muita fé" ou as vezes com bastante esperança que possamos ajudá-los. Este tipo de paciente requer uma atenção especial e muitas vezes requer bem mais "tempo de cadeira" do que os demais, é preciso ouvir e compreender bem o seu histórico, expectativas e desenvolver uma solução viável para o caso, sempre a melhor para o paciente, tanto do ponto de vista da saúde como do valor que será cobrado de honorários de adaptação.

Atualmente com a recente disponibilização das lentes semiesclerais que estão surgindo está havendo uma tendência a procurar por este tipo de adaptação de lentes maiores. Vejo com certa reserva esta questão pois sabemos que grande parte da dificuldade destes pacientes não reside no tipo de lente que está sendo testada mas na qualidade e na tecnologia da lente que o profissional dispõe em sua clínica. As lentes esclerais e semiesclerais que dispomos no IOSB (Ultracone SSB e SB) somente são utilizadas quando há de fato casos de ceratocone de complexidade ainda maior onde as lentes para ceratocone corneanas não apresentaram o resultado ideal.

A adaptação indicriminada de lentes esclerais ou mesmo semiesclerais sem o devido treinamento poderá resultar no surgimento de novas complicações. É importante estar atento a estas alterações, observar se não está ocorrendo edema de córnea, compressão da esclera, impressão da borda da lente na conjuntiva, existência de pinguécula ou de pterígio importante, hiperemia conjuntival ou outras alterações da córnea, do limbo e da esclera.

Qualquer adaptação de lentes rígidas, seja qual for não devem apresentar toque apical pois poderá a qualquer momento começar um processo de atrito mecânico (especialmente ao piscar) que irá provocar alguma alteração nas células epiteliais e com o agravamento levar a ceratites recorrentes e mesmo a erosão ou a úlceras de córnea. Uma correta adaptação de lentes de contato RGPs no ceratocone deverá proporcionar uma adaptação tranqüila, sem dor, sem lacrimejamento excessivo e persistente e aumentando uma hora por dia o tempo de uso, em torno de 10 dias o paciente já deve sentir-se bem com as lentes.

Luciano Bastos
Diretor & Instrutor Clínico de LC IOSB

Em colaboração com o Blog C&T.